Fonte: Blog da ACIESP
Data de publicação: 08-05-2016 10:29

A imprensa noticiou um eventual convite ao Bispo Marcos Pereira para assumir o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em um também eventual governo Michel Temer. O agora Deputado preencheria assim uma cota dedicada ao PRB, partido do qual é Presidente. As primeiras reações demonstraram indignação de alguns partidos (como aparentemente externado pelo PSDB e PSB) e de representantes acadêmicos como SBPC e ACIESP.

 

A comunidade científica se pergunta: qual é a motivação para uma indicação tão fora de contexto? Qualquer que seja a resposta, ela não é boa para o país. Uma primeira possibilidade é que haja um deliberado ataque ao setor científico e tecnológico nacional. Ciência e religião coexistem como grande forças motrizes das sociedades desde tempos imemoriais. Por muitas vezes tratam e trataram dos mesmos temas, e confrontam-se em explicações sobre fenômenos naturais. Esses confrontos deixam claro que são, em seu âmago, diferentes, seja em suas ontologias (uma física, outra metafísica), seja em sua operacionalização - uma trata de dados materiais obtidos em processos reprodutíveis, outra de crenças imateriais que se baseiam na fé -, e seu desenvolvimento - uma se desenvolve pela quebra de paradigmas, outra tem um dogma central intestável. É evidente que um cientista não é melhor guia o futuro da CNBB outro órgão similar, mas tampouco um religioso de profissão seria adequado para guiar os avanços científicos do país. Uma segunda possibilidade é que a ciência seja simplesmente moeda de troca e barganha política. Neste caso, não há uma questão filosófica maior, e sim a persistência de uma pequenez política que assola nosso país há tempos. A consequência de qualquer uma das possibilidades é condenar o país a pagar caro por atitudes não ponderadas, um país que já sofre com moléstias infecciosas dramáticas, com a destruição de seu meio ambiente, com desastres trágicos em represas, coma falta d’água, estes temas para os quais precisamos de soluções científicas e tecnológicas. Deixamos aqui um apelo aos que têm o poder de decisão – O MCTI é um ministério estratégico para o Brasil e deve ser tratado com seriedade para assegurar o futuro das gerações vindouras.

Antonio Carlos Marques (Professor Titular do Instituto de Biociências e Diretor do Centro de Biologia Marinha da USP)

Marcos Silveira Buckeridge (Professor Associado do Instituto de Biociências da USP e Presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo – ACIESP)