A fotografia, intitulada "O Verme Marinho Chaetopterus variopedatus", é de Anderson Garbuglio de Oliveira, da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), campus de São José dos Campos, e de Alvaro E. Migotto. Ela foi feita no Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (CEBIMar/USP), no âmbito do projeto "Bioluminescência do Anelídeo Marinho Chaetopterus variopedatus: estudo mecanístico e aplicações biotecnológicas", coordenado por Anderson, apoiado pelo CEBIMar e financiando pela FAPESP.

A imagem conquistou o primeiro lugar na quarta edição do Prêmio de Fotografia - Ciência & Arte, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

 Chaetopterus variopedatus

Foto: Anderson Garbuglio de Oliveira e Alvaro E. Migotto

 

A imagem, vencedora na Categoria I (imagens produzidas por câmeras fotográficas),  mostra o verme marinho Chaetopterus variopedatus (Annelida, Polychaeta) em um tubo de vidro, dentro de um aquário contendo água do mar. Nessas condições, é possível se ter uma ideia do comportamento desse organismo, ainda pouco estudado, em laboratório. Com exceção dos estágios iniciais de desenvolvimento, que vivem em suspensão na água do mar (embriões e larvas são planctônicos), C. variopedatus passa toda a sua vida confinado em um tubo pergamináceo, opaco e flexível, enterrado em sedimentos marinhos. Secretado pelo próprio animal, o tubo em forma de U deixa exposto apenas as suas extremidades. O corpo de C. variopedatus é alongado e delicado, sendo formado por inúmeros segmentos e dividido em três regiões distintas. Embora a boca esteja na extremidade anterior do corpo (à direita na fotografia), a obtenção de alimento ocorre na região mediana, através de um processo bastante elaborado. Utilizando três estruturas largas e arredondadas (visíveis bem no centro do animal fotografado), que se encaixam perfeitamente no tubo e funcionam mais ou menos como êmbolos, o animal cria um fluxo de água do mar, enquanto glândulas produzem um muco capaz de reter materiais particulados diversos, como pequenos seres planctônicos e detritos presentes na água. O animal interrompe o bombeamento quando o aglomerado de alimento e muco atinge um determinado tamanho, conduzindo-o até a boca onde ocorre a ingestão.

Quando esse anelídeo é delicadamente removido de seu tubo e mantido em água do mar em laboratório, é capaz de emitir flashes de luz azul intensa (bioluminescência) a partir de estímulos mecânicos e químicos. A emissão de luz ocorre em vários segmentos de seu corpo, havendo também a produção de um muco bioluminescente. Ao contrário de muitos outros organismos bioluminescentes em que a produção de luz está associada à reprodução (atração de um parceiro), defesa contra predadores (ofuscando ou despistando o predador) ou predação (atraindo presas), em C. variopedatus ela ainda é um mistério. Por que um organismo que vive preso no espaço exíguo e escuro de seu tubo produz luz?

O estudo da emissão de luz por esse organismo faz parte do Projeto Regular FAPESP (Processo: 13/21814-6), coordenado por Anderson. Esse projeto visa isolar e caracterizar os componentes químicos envolvidos nesse processo de luminescência. Além disso, espera-se que as aplicações dos princípios envolvidos na bioluminescência de C. variopedatus possibilitem também o desenvolvimento de sondas fluorescentes para o estudo de processos biológicos e conversão de energia luminosa.

Veja, no site do CNPq, notícia sobre o IV Prêmio de Fotografia Ciência & Arte.