Devido a mudanças climáticas globais, os principais arquitetos dos recifes de corais vêm sofrendo com branqueamento, doenças e sobrepesca. Assim, diversos esforços vêm sendo dedicados para melhor entendermos estes ecossistemas megadiversos. Uma das principais lacunas no conhecimento dos recifes coralíneos, mais especificadamente sobre a evolução dos mesmos, é a relação de simbiose entre os corais (hospedeiros) e algas unicelulares (dinoflagelados), que atualmente é tema de grande debate devido aos extensos registros de branqueamento nos principais recifes do mundo.

Aproximadamente 240 milhões de anos atrás, os corais da ordem Scleractinia, conhecidos como corais pétreos pela capacidade de produzir um esqueleto calcário, rapidamente se diversificaram e expandiram suas ocorrências em regiões rasas localizadas em zonas tropicais. Os principais fatores responsáveis por esta rápida evolução ainda não são claros, mas o sucesso ecológico dos corais formadores de recifes tem sido atribuído à simbiose entre estes e dinoflagelados fotossintetizantes. Em trabalho recentemente publicado na revista Science Advances (Photosymbiosis and the expansion of shallow-water corals  - doi: 10.1126/sciadv.1601122) uma equipe interdisciplinar, incluindo pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Biodiversidade Marinha sediado no Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo, ao estudar a microestrutura, assim como as relações entre isótopos (carbono 13C/12C, oxigênio 18O/16O e nitrogênio 15N/14N) da matriz orgânica do esqueleto de fósseis de corais do final do Período Triássico (212 Ma - Milhões de anos), e compará-los com corais recentes, sugerem que as relações entre os isótopos e também a microestrutura do esqueleto podem ser utilizadas para o detecção de espécies de corais que estabeleceram esse tipo de simbiose. Os resultados desta pesquisa ainda indicam que o Mar de Tethys (uma das principais áreas com ocorrência de corais durante a Era Mesozóica) era um habitat pobre em nutrientes e, de forma geral, com baixa produtividade. Aliadas, estas informações demonstram que o estabelecimento da simbiose corais/dinoflagelados foi muito vantajosa para ambos os organismos e um aspecto chave na evolução dos corais formadores de recifes.

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Fig. 1 - Macrostructural and microstructural characteristics of modern and Triassic corals.

(A) Polished slab showing morphological diversity of corals from Antalya (Turkey). (B) CV of growth band thickness in modern asymbiotic (yellow dots) and symbiotic (green squares) scleractinian corals. All Triassic corals (red diamonds), irrespective of growth form, show regular growth banding, that is, low CV values, consistent with a symbiotic lifestyle. Growth increments of TDs (transmitted light images) in the Triassic Coryphyllia sp. (solitary) (C), Volzeiaaff. badiotica (phaceloid) (D), Cerioheterastraea cerioidea (cerioid) (E), Meandrovolzeia serialis (meandroid) (F), and Ampakabastraea nodosa(thamnasterioid) (G) in direct comparison with modern corals: asymbiotic Desmophyllum dianthus (solitary) (H), Lophelia pertusa (phaceloid) (I), symbiotic Goniastraea sp. (cerioid) (J), Symphyllia radians (meandroid) (K), and Pavona cactus (thamnasterioid) (L). Measurements and taxonomic attribution are provided in tables S1 and S2. Scale bars, 10 mm (A) and 50 μm (C to L).

O resultado completo destes estudos pode ser consultado em:

K. Frankowiak, X. T. Wang, D. M. Sigman, A. M. Gothmann, M. V. Kitahara, M. Mazur, A. Meibom, J. Stolarski. Photosymbiosis and the expansion of shallow-water corals. Sci. Adv. 2, e16011 22 (2016). Disponível em: http://advances.sciencemag.org/content/2/11/e1601122.

Veja também: Migotto, AE. Recifes de Corais e Branqueamento. Disponível em: http://noticias.cebimar.usp.br/editoria-divulgacao/73-recifes-de-coral-e-branqueamento

Marcelo V. Kitahara
Departamento de Ciências do Mar
Universidade Federal de São Paulo
Campus Baixada Santista