A introdução de espécies exóticas é considerada uma das principais ameaças à biodiversidade, com potencial de causar uma série de impactos negativos em populações nativas. Duas espécies de corais do gênero Tubastraea (T. coccinea e T. tagusensis), popularmente conhecidos como coral-sol, foram introduzidas na costa brasileira por volta da década de 1980 e, atualmente, se distribuem ao longo de mais de 3800 km, competindo com espécies nativas e endêmicas.

 Invasão do coral-sol em um costão rochoso da Ilha dos Búzios, litoral norte do Estado de São Paulo.

Invasão do coral-sol em um costão rochoso da Ilha dos Búzios, litoral norte do Estado de São Paulo. 

 

Ambas as espécies de coral-sol têm crescimento rápido, maturidade reprodutiva precoce e grande variedade de estratégias reprodutivas, características típicas de espécies invasoras. Dentre as estratégias reprodutivas desses corais, destaca-se a capacidade de produzir larvas assexuadamente, ou seja, sem a necessidade de um parceiro reprodutivo. Tal estratégia é provavelmente um dos principais fatores responsáveis pela rápida expansão do coral-sol ao longo da costa brasileira. No entanto, informações acerca da biologia reprodutiva e diversidade genética dessas espécies ainda são escassas. Em trabalho recentemente publicado na revista PeerJ “Clone wars: asexual reproduction dominates in the invasive range of Tubastraea spp. (Anthozoa: Scleractinia) in the South-Atlantic Ocean” (doi 10.7717/peerj.3873), foram estudadas duas populações invasoras no Brasil (Baía de Todos os Santos, Bahia, e Baía de Ilha Grande, Rio de Janeiro) utilizando 12 loci de microssatélites (sequências curtas de DNA repetitivas utilizadas para estudos de parentesco, migração etc.) especificamente desenvolvidos para o trabalho. Resultados revelam alta taxa de clonalidade nas duas espécies que invadiram o Atlântico Sul, com clones separados por mais 1500 km de distância. Os resultados sugerem ainda a ocorrência de múltiplos eventos de invasão para T. coccinea e indicam que a reprodução assexuada predomina nas populações invasoras, sendo um dos fatores cruciais para o sucesso da invasão.

 

Artigo escrito por Kátia C.C. Kapel, Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro & Centro de Biologia Marinha, Universidade de São Paulo.

A publicação completa deste estudo pode ser lida em:

Capel KCC, Toonen RJ, Rachid CTCC, Creed JC, Kitahara M, Forsman Z, Zilberberg C (2017). Clone wars: asexual reproduction dominates in the invasive range of Tubastraea spp. (Anthozoa: Scleractinia) in the South-Atlantic Ocean. PeerJ 5:e3873; DOI: 10.7717/peerj.3873.