Publicado originalmente em: O Telescópio, n. 17, fev/mar 2008.
Clique para ter acesso ao texto em pdf.Golfinhos, baleias, tubarões e tartarugas são os primeiros seres que vêm à cabeça quando pensamos na vida marinha. Polvos, caranguejos e peixes multicoloridos, como aqueles que aparecem em documentários sobre recifes de corais, completam o conhecimento da maioria das pessoas sobre os organismos marinhos. Entretanto, a maior parte da vida marinha não é formada por animais de grande porte, como peixes e baleias, mas por organismos praticamente invisíveis a olho nu. Estes seres minúsculos incluem bactérias, microalgas, protozoários e muitos animais, como pequenas águas-vivas e crustáceos. São encontrados em praticamente todos os ambientes marinhos, e vivem agarrados às rochas, entre os grãos de areia, ou nadando livremente na água.
![Organismos marinhos Organismos marinhos](/images/cebimar/artigos/telescopio/telescopio.jpg)
Apesar de pequenos, estes microscopicos organismos estão longe de serem qualificados como insignificantes, pois têm lugar de destaque na complexa rede de relações físicas, químicas e biológicas do planeta. Um número gigantesco de pequenos seres uni ou multicelulares povoa cada centímetro quadrado da areia da praia e cada centímetro cúbico da água do mar. Quem já caminhou sobre a areia ou deu um mergulho no mar certamente fez contato com milhares destes organismos.
Criaturas marinhas que vivem na coluna d’água e são incapazes de vencer as forças das correntes são chamadas de plâncton. Os seres planctônicos fotossintetizantes constituem o fitoplâncton, enquanto os incapazes de realizar a fotossíntese compõem o zooplâncton. Com representantes de quase todos os grupos de seres vivos, os seres planctônicos são importantíssimos para as redes alimentares aquáticas. O fitoplâncton, por exemplo, é um dos responsáveis pela liberação de grande parte do oxigênio atmosférico, além de servir como alimento para o zooplâncton. Por sua vez, pequenos crustáceos planctônicos, como o krill, são o prato preferido das baleias. Além disso, muitos invertebrados marinhos também passam parte de suas vidas como formas planctônicas até se transformarem em adultos que habitam o fundo do mar.
Os pequenos seres do plâncton vivem em um mundo fisicamente diferente do que estamos acostumados. Nesse meio, a força da viscosidade da água impera sobre os microscópicos corpos dos organismos planctônicos, que têm dificuldade para se deslocar. Para entender melhor esse fenômeno, imagine-se em uma piscina de melado (ou outro líquido muito viscoso), onde só é possível nadar ou mexer qualquer parte de seu corpo em câmara lenta. É neste tipo de ambiente que os organismos planctônicos obtêm alimento e se reproduzem há milhões de anos.
Os organismos que vivem livres na água do mar e têm menos que 1cm são difíceis de observar sem a ajuda de um instrumento, e precisam ser coletados por uma rede especial com malha muito fina, chamada rede de plâncton. Ao ser puxada manualmente ou por um barco durante alguns minutos, a rede concentra os seres planctônicos num pote coletor.
No laboratório, os organismos marinhos são mantidos em tanques ou aquários com água do mar para serem estudados e fotografados.
Apesar de parecer complicada, a rotina de estudo de organismos marinhos em laboratório é simples. Após uma coleta com rede de plâncton os organismos obtidos são triados utilizando-se lupas que aumentam a imagem de 2 a 40 vezes. Os organismos de interesse são então separados e analisados no microscópio, onde as imagens podem ser ampliadas até 1000 vezes. Outra técnica comumente utilizada no estudo de organismos microscópicos é a microscopia eletrônica de varredura (MEV). As amostras passam por uma preparação especial, são recobertas por uma fina camada de ouro, e observadas em um microscópio eletrônico. Em vez de luz, este equipamento emite um feixe de elétrons sobre a amostra, formando imagens com grande profundidade de foco, o que dá uma excelente idéia do aspecto tridimensional do organismo, diferentemente dos microscópios ópticos comuns. A técnica permite observar a superfície do corpo em alta resolução, revelando detalhes antes invisíveis na microscopia de luz convencional.