Estudo mostra declínio do budião-azul (Scarus trispinosus) em Abrolhos, BA, e indica necessidade de estratégias adicionais de proteção e manejo, que devem abranger áreas marinhas além das protegidas.

Estudo mostra declínio do budião-azul (Scarus trispinosus) em Abrolhos, BA, e indica necessidade de estratégias adicionais de proteção e manejo, que devem abranger áreas marinha além das protegidas. Foto: Ronaldo Francini-Filho.

Foto: Ronaldo Francini-Filho (CEBIMar/USP).

Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) são amplamente reconhecidas por conservarem e restaurarem a biodiversidade marinha, focando em áreas de alta biodiversidade, e que servem para reprodução e como berçário de espécies marinhas. No entanto, as AMPs perdem sua eficiência se os impactos no entorno não forem regulados através de medidas complementares de conservação, como o manejo de pesca.

Este é o caso do budião-azul (Scarus trispinosus), uma espécie endêmica do Brasil e ameaçada, explorada pela pesca no Banco dos Abrolhos, local que contém os recifes mais diversos do Atlântico Sul. Essa região possui quatro diferentes AMPs cobrindo cerca de 6.250 km², incluindo duas reservas extrativistas, uma Área de Proteção Ambiental (APA) e duas áreas de proteção integral que abrangem o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos.

Neste trabalho, vimos que duas das três principais áreas de berçário do budião-azul estão dentro de áreas de proteção integral, onde a pesca é proibida. Mesmo assim, as populações de juvenis e adultos desta espécie continuam diminuindo ao longo do tempo, provavelmente devido à pesca no entorno das AMPs de proteção integral e dentro de AMPs de uso múltiplo, o que pode estar afetando a geração de novos recrutas e comprometendo o ciclo de vida da espécie. Os resultados reforçam que o manejo de pesca é fundamental para assegurar o bom funcionamento das AMPs e a proteção de uma espécie ameaçada alvo da pesca, como o budião-azul.

Arquipelago ECO360

O budião-azul parecia estar a salvo nas áreas protegidas de Abrolhos, como o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. Foto: ECO0360.

A espécie é considerada ameaçada de extinção desde 2014 pela Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção (portaria nº 445) e um dos principais alvos de pescarias artesanais e esportivas no Banco dos Abrolhos, onde são pescadas cerca de 24 toneladas do budião-azul anualmente.

Em 2018, o Plano Nacional de Recuperação de Espécies Ameaçadas através da portaria nº 59-B regulamentou a pescaria do budião-azul estabelecendo uma série de regras de captura, visando a recuperação de suas populações. Até o momento, porém, o plano não foi implementado e o budião-azul continua sendo pescado indiscriminadamente no Banco dos Abrolhos. Caso medidas de manejo pesqueiro não sejam tomadas o mais rápido possível, a proibição total da pesca será a única forma de promover a recuperação das populações do budião-azul.

Scarus trispinosus Ronaldo Francini Filho

O budião-azul é a espécie de budião mais ameaçada do Oceano Atlântico. Foto: Ronaldo Francini-Filho (CEBIMar/USP).

 

Leia o artigo completo: Roos, N.C., Longo, G.O, Pennino, M.G., Francini-Filho R.B. & Carvalho, A.R. (2020). Protecting nursery areas without fisheries management is not enough to conserve the most endangered parrotfish of the Atlantic Ocean. Scientific Reports, https://doi.org/10.1038/s41598-020-76207-x. (open access)

Portaria 445, de 17/12/2014. Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção

 

Dr. Natália C. Roos, Pós-doutoranda, Dep. Oceanografia e Limnologia – DOL, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Av. Via Costeira Senador Dinarte Medeiros Mariz, S/N, Natal, RN, 59014-002, Brasil.