A pesca ilegal representa um dos maiores problemas mundiais ao ameaçar a segurança alimentar, a conservação de organismos marinhos e gerar a perda de milhões de dólares por ano. Apesar dos impactos negativos desta atividade, pouco se conhece sobre seus verdadeiros impactos na biodiversidade, em parte devido à falta de dados disponíveis.

No intento de controlar ações ilegais e reduzir seus efeitos negativos, entidades governamentais têm criado unidades de conservação integral e programas de monitoramento e fiscalização. Infelizmente, menos de 10% das unidades de conservação são efetivas no controle da pesca ilegal, em parte devido à falta de financiamento e pessoal capacitado para realizar fiscalização. O problema foi agravado durante a pandemia de COVID-19, quando oficiais, turistas e pesquisadores reduziram suas atividades em unidades de conservação devido às normas de distanciamento social sugeridas pela organização mundial da saúde.

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Estado de Conservação das espécies de peixeis capturadas analisadas no estudo: LC - pouco preocupante; VU - vulnerável; CR - em perigo crítico

Fonte: Quimbayo et all. Current Biology 2022.

A ausência dos diferentes setores nas unidades conservação favoreceu o aumento da pesca ilegal como observado no recente estudo liderado por pesquisadores do CEBIMar em parceria com pesquisadores do Universidade Federal de Santa Catarina, o Instituto Chico Mendes e o Smithsonian. Este recente estudo publicado na revista Current Biology, usou registros de pesca ilegal, compilados entre 2017 e 2021, dentro da estação ecológica de Tupinambás e o refúgio de vida selvagem de Alcatrazes. Especificamente, o estudo mostrou um acréscimo na riqueza, biomassa e diversidade funcional capturada por atividades ilegais na unidade de conservação durante a pandemia. E que esse acréscimo está relacionado com o aumento da presença de embarcações recreativas, que visam a captura de espécies de alto valor comercial, muitas das quais consideradas ameaçadas de extinção (classificadas como VU e LC, veja legenda acima) segundo entidades nacionais e internacionais de conservação.

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Espécies marinhas encontradas em barcos de pesca em operação de fiscalização. Fotos: Leo Francini 

O estudo aponta que a presença de oficiais capacitados e atuantes dentro da unidade e o investimento do governo em programas de fiscalização são condições chaves para a preservação da biodiversidade marinha, a segurança alimentar e conservação dos serviços ecossistêmicos, bem como para as atividades de turismo no interior da unidade de conservação.


Leia o artigo completo:

Quimbayo JP, Silva FC, Barreto CR, Pavone CB, Lefcheck JS, Leite K, Figueiroa AC, Correia E, Flores AAV (2022). The COVID-19 pandemic has altered fishing activities inside and outside a marine protected área. Current Biology, v. 32, n. 14, p. R765-R766, july 2022. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cub.2022.06.030    


 Juan P. Quimbayo é pós-doutorando do Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo, São Sebastião, SP e um dos autor do artigo completo.