Questões ecológicas importantes como a compreensão de grandes mudanças na composição dos ecossistemas dependem de monitoramentos em longo prazo. Até 2030, estaremos na Década do Oceano. E como anda nosso entendimento sobre as mudanças em nossos ambientes costeiros e marinhos?

Ainda não temos todas as respostas. Para começarmos a entender grandes processos, precisamos saber como estes ecossistemas têm sido estudados. Muitos pesquisadores têm acompanhado os habitats costeiros e marinhos ao longo da costa brasileira, mas em 2019 foi a primeira vez que houve uma reunião para avaliar o estado atual dos monitoramentos destes ecossistemas.

Em artigo científico publicado recentemente, foi realizada uma compilação de dados dos grupos de animais, de vegetais e de variáveis abióticas que têm sido monitorados na costa brasileira nos últimos anos. Para se ter uma amostragem mais homogênea, foram utilizados dados de nove projetos associados ao Programa Ecológico de Longa Duração, o PELD, apoiado pelo CNPq. Estes projetos monitoram lagoas costeiras, manguezais, áreas recifais e outros habitats na costa e nas ilhas oceânicas. 

Em sua maioria, os projetos são recentes (<5 anos) e ainda trabalham isoladamente. A produção científica dos grupos aumentou exponencialmente com a idade do projeto, apesar da interrupção ou escassez de financiamento durante a história dos projetos. Os ambientes recifais e grupos de peixes foram os mais estudados dentro dos projetos de longo prazo. Contudo, a maioria dos monitoramentos é associado a áreas protegidas e não é homogênea ao longo da costa ou habitats. Por exemplo, as regiões norte e nordeste tem poucos projetos de monitoramento de longo prazo, e áreas de manguezais são especialmente pouco representadas.

Projetos que monitoram ecossistemas marinhos e costeiros brasileiros são cientificamente produtivos, mas ainda são pouco integrados e não abrangem todas as áreas.

Com este diagnóstico, são recomendadas algumas ações para preencher as lacunas observadas, tais como: aprimoramento dos projetos por meio de colaboração e integração; foco em regiões prioritárias para novos projetos; ampliação do escopo das variáveis monitoradas; e manutenção de financiamento para projetos existentes. 


 Leia o artigo completo:

Cordeiro CAMM, Aued AW, Barros F, Bastos AC, Bender M, Mendes TC, Creed JC, Cruz ICS, Dias MS, Fernandes LDA, Coutinho R, Gonçalves JEA, Floeter SR, Mello-Fonseca J, Freire AS, Gherardi DFM, Gomes LEO, Lacerda F, Martins RL, Longo GO, Mazzuco AC, Menezes R, Muelbert JH, Paranhos R, Quimbayo JP, Valentin JL, Ferreira CEL. 2022Long-term monitoring projects of Brazilian marine and coastal ecosystems. PeerJ 10:e14313. Disponível em:  https://doi.org/10.7717/peerj.14313. Acesso em: 11/11/2022.


Cesar AMM Cordeiro é professor associado à Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.