Duas espécies de corais exóticos invasores, Tubastraea coccinea e Tubastraea tagusensis, popularmente conhecidos como corais-sol, se espalharam por vários pontos entre Ceará e Santa Catarina desde sua introdução acidental na década de 1980. Originárias do oceano Indo-Pacífico, essas espécies provavelmente chegaram ao Brasil aderidas a estruturas metálicas de plataformas de petróleo, deslocadas entre bacias petrolíferas.

Diversas características biológicas e ecológicas dos corais-sol contribuem para seu potencial invasor, representando uma séria ameaça à biodiversidade marinha. Esses corais invasores também estão presentes em Unidades de Conservação, como o Refúgio da Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, uma área federal protegida, situada no litoral norte de São Paulo. Desde 2013, o arquipélago recebe ações contínuas de manejo para controle das populações de Tubastraea, coordenadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O manejo é conduzido por mergulhadores capacitados, utilizando ferramentas como marreta e talhadeira. Nos últimos anos, também foi implementado o uso do martelete pneumático. No entanto, mesmo quando a colônia é aparentemente retirada por completo, pequenos fragmentos de tecido podem permanecer aderidos ao substrato.

Em um estudo publicado recentemente na revista Coral Reefs, pesquisadores investigaram o que acontece com os fragmentos de tecido não diferenciados que permanecem presos ao substrato após as atividades de manejo: seriam capazes de sobreviver e regenerar? Para responder a essa pergunta, foram acompanhados tecidos remanescentes de T. tagusensis por 398 dias em Alcatrazes, revelando que 90% dos fragmentos deixados após a remoção sobreviveram e se regeneraram (Figura 1). Um dos fragmentos regenerou até formar uma colônia com 31 pólipos, e a maioria dos tecidos regenerados ultrapassou cinco pólipos, tamanho frequentemente alvo das ações de manejo. Mesmo fragmentos extremamente pequenos, como os de apenas 0,180 cm², demonstraram capacidade de originar novas colônias funcionais.

T tagusensis

Figura 1: Crescimento de uma colônia de T. tagusensis, regenerada a partir de tecido remanescente em Alcatrazes, ao longo de 7 meses de monitoramento.

Por outro lado, as colônias regeneradas podem ter um crescimento mais lento, retardo na reprodução e produzir larvas de menor qualidade, comparado com colônias não regeneradas, mas devem ser realizados mais estudos científicos. Esses efeitos podem ser considerados resultados positivos do manejo, pois reduzem o potencial de dispersão e o estabelecimento das colônias invasoras.

Os resultados reforçam tanto os desafios do manejo de espécies invasoras marinhas quanto a importância do monitoramento de longo prazo em áreas protegidas. A continuidade das ações de controle, combinada a estudos sobre a capacidade regenerativa dos tecidos em regeneração, será essencial para aumentar a eficácia do manejo e aprimorar as estratégias de enfrentamento dessa ameaça à biodiversidade na costa brasileira.


Saiba mais:

Mendes, V.S., Coelho-Souza, S.A., de Oliveira, F.F.; López M.S. Sun coral regeneration after management actions in a Brazilian no-take marine protected area. Coral Reefs (2025). Disponível em: https://doi.org/10.1007/s00338-025-02674-1