Este vídeo mostra uma menina curiosa e sua perplexidade diante do mar. A personagem foi inspirada na professora e cientista Tagea Kristina Simon Björnberg.

Tagea tinha uma curiosidade nata pela natureza e dedicou sua carreira de cientista ao estudo dos organismos marinhos.

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Veja também folheto de divulgação (em pdf).

taggea na praia

E são muitos os seres vivos que vivem no mar, desde as enormes baleias até as microscópicas bactérias. São tantos animais, plantas e microrganismos que nem sabemos ao certo quantos são ao todo!

Muitas espécies rastejam pelo fundo do mar, se enterram na areia ou vivem grudadas nas rochas: são algas, camarões, caranguejos, caramujos, ostras, polvos, corais, estrelas-do-mar, ouriços-do-mar, esponjas, entre muitas mais. Outras gostam de nadar bastante, como as baleias, os golfinhos, as focas, as tartarugas, os pinguins, os peixes e também as lulas.

Tagea

Há ainda aquelas que vivem boiando no mar, não conseguem nadar para muito longe - são, na verdade, arrastadas por correntes, ondas e marés -  e são quase sempre tão pequenas que para enxergá-las precisamos de um microscópio. O nome do conjunto de todas essas espécies que vivem soltas na água é plâncton - o plâncton pode ser dividido em dois grupos principais, o dos animais, o zooplâncton, e o das algas, o fitoplâncton.

Um fato muito interessante sobre o plâncton é que muitos produzem luz! É o que chamamos de bioluminescência, a capacidade que alguns seres vivos têm de emitir luz, como os vaga-lumes.

Durante o dia a bioluminescência do plâncton é ofuscada pelo sol, mas em noites sem lua e longe da luminosidade das cidades, a luz produzida por cada minúsculo ser se soma à de muitos outros, e então, às vezes, é possível ver um leve “brilho” no mar com o movimento da água.

Essa luz se torna mais intensa conforme aumenta a quantidade de plâncton bioluminescente, fazendo com que a água pareça iluminada por luzes neon, geralmente de tom azulado. Na cultura dos habitantes tradicionais do litoral, os caiçaras, esse fenômeno é chamado ardentia.

Mas na maioria das vezes, mesmo à noite, é difícil notar a ardentia. Isso ocorre porque os seres bioluminescentes podem não estar presentes no local e no momento em quantidade suficiente, por causas naturais ou por culpa da poluição dos oceanos e de outros problemas ambientais causados pelo ser humano.

O curioso é que a poluição pode também levar a uma superpopulação de algumas espécies do plâncton, causando um desequilíbrio ambiental. Se a espécie for bioluminescente, a luz produzida gera uma ardentia bastante intensa.

Muitos cientistas procuram entender como a poluição influencia na alimentação e reprodução do plâncton, e como ela pode afetar os organismos que dele se alimentam até chegar, pela cadeia alimentar, a nós, humanos.

taggea mergulhando

O trabalho dos(as) cientistas - ou pesquisadores(as), como são também chamados(as) - não é só estudar e entender o plâncton e os problemas causados pela poluição no mar. Cientistas de diversas áreas do conhecimento são motivados(as) por entender como todas as coisas funcionam, sejam elas relacionadas à sociedade, natureza ou tecnologia.

Normalmente uma pesquisa começa pela curiosidade de se encontrar uma explicação para um tema desconhecido ou não bem compreendido, de interesse da Ciência ou da população. Para isso, os(as) cientistas(as) realizam observações, fazem experimentações e analisam minuciosamente os resultados que encontram. Essas informações são utilizadas para tirar conclusões e responder à dúvida inicial, mas isso também cria outras dúvidas que geram novas pesquisas, e assim por diante.

As descobertas de cada estudo são divulgadas para o conhecimento de outros cientistas e profissionais, e podem ajudar no desenvolvimento de novas tecnologias médicas, farmacêuticas, agrícolas, energéticas, de comunicação etc.

À medida que as descobertas ocorrem, a Ciência melhora nossa compreensão do mundo e nossa qualidade de vida. 


Um pouco mais sobre a nossa personagem:

Tagea nasceu em São Vicente, no litoral de São Paulo, em 1925. Seu pai era sueco e sua avó materna, alemã, de modo que desde pequena várias línguas eram faladas em sua casa: alemão, sueco, inglês e até o português, claro.

Era apaixonada por livros e histórias infantis. Tanto assim, que aos 11 anos, em cartas ao escritor Monteiro Lobato, sugeriu a criação de um novo personagem (clique aqui para ler algumas de suas cartas). Ele gostou tanto da ideia que criou o Peninha, e a própria Tagea acabou virando personagem de uma das histórias do Sítio do Picapau Amarelo - coleção de livros de literatura infanto-juvenil - , a Björnberg de Coqueiros (vilarejo no município de Amparo/SP)!

O interesse pela natureza e tudo que ela aprendeu nos livros na infância só aumentaram sua curiosidade. Assim, quando se formou no ensino médio, foi estudar Biologia, curso que na época se chamava História Natural. Depois de ter completado o curso universitário, continuou estudando aquilo que gostava mais, os animais marinhos. Teve de batalhar muito, dando aulas de Biologia em escolas ao mesmo tempo em que realizava suas pesquisas na USP (cursou uma pós- graduação e obteve, com isso, o título de doutora em Zoologia).

Tagea

 Ao longo de sua carreira Tagea se especializou no estudo do plâncton. Trabalhou na Universidade Federal do Paraná e nos institutos Oceanográfico e de Biociências, ambos da USP. A Ciência a levou a conhecer muitos lugares incríveis, inclusive a bordo de navios de pesquisa. Além de estudar a vida marinha, Tagea gostava de ensinar e fez isso com muito gosto e elegância durante toda a sua vida na universidade. Primeiro, como professora de Zoologia e depois ensinando sobre o plâncton, tendo ajudado a formar muitos(as) professores(as) e cientistas por todo o Brasil, o que a tornou um ícone para gerações de estudantes e profissionais das Ciências Marinhas.

Tagea nunca deixou de se maravilhar pelo mar e pelas criaturas marinhas. Mesmo depois de aposentada, mudou-se para São Sebastião, passando a trabalhar no CEBIMar, onde atua até hoje, com quase 96 anos de vida! Seu entusiasmo é contagiante, e sua história de vida um exemplo para aquelas e aqueles que pretendem seguir a carreira de cientista ou professor(a).

tagea

Fotos: Alvaro E. Migotto


Glossário:

Biologia: área da ciência que estuda as formas de vida, sua diversidade, funcionamento, reprodução, relações e evolução.

Bioluminescência: produção de luz por seres vivos com diferentes funções como comunicação, atração de presas ou confundir predadores.

Cadeia alimentar: relação sequencial entre seres vivos em que um organismo serve de alimento para o seguinte e que se inicia com um produtor (um quimio ou fotossintetizante) e finaliza com decompositores (fungos e/ou bactérias).

Caiçara: designa o habitante tradicional do litoral e a cultura relacionada a seu modo de vida, frequentemente associado à subsistência pela pesca.

Ciência: conjunto de conhecimentos adquiridos pela humanidade fundamentados em conclusões baseadas nas informações obtidas por observação e métodos experimentais.

Espécie: conjunto de seres vivos que se reproduzem entre si em condições naturais, gerando descendentes férteis.

Experimentação: metodologia que consiste em obter informações sobre determinado fenômeno natural sob condições controladas.

Fitoplâncton: parte do plâncton composta por seres fotossintetizantes (produzem seu próprio alimento por meio da energia solar e do gás carbônico), como microalgas e cianobactérias.

Microscópio: equipamento óptico que amplia a imagem de objetos muito pequenos.

Monteiro Lobato: escritor brasileiro atuante nas primeiras décadas do século XX, famoso pelas suas obras infantis.

Plâncton: conjunto de seres aquáticos, na maioria das vezes microscópicos, que vivem suspensos na coluna d’água e não têm força ou órgãos que permitam vencer correntezas, ondas ou variações de maré.

Poluição: presença no ar, na água ou no solo de qualquer agente físico, químico ou biológico capaz de causar danos ao ambiente e aos seres vivos.

Pós-graduação: qualquer curso realizado após a conclusão do nível superior que confira a obtenção de um diploma e avanço no nível de escolaridade. No Brasil são comuns os cursos de especialização, mestrado e doutorado.

Superpopulação: condição em que uma população de uma determinada espécie aumenta em número repentinamente por algum motivo, frequentemente num período de tempo definido.

Zoologia: especialidade da Biologia que estuda os animais.

Zooplâncton: conjunto de animais que fazem parte do plâncton.


Para saber mais:

Sobre a Prof. Tagea Bjornberg:

Bjornberg, TKS., Migotto, A. E., Souza, AM; Costa, VR. A Björnberg de Coqueiros. [Entrevista]. Ciência Hoje,  v. 44, n. 262, p. 66-74, 2009. (Clique para acessar e vá até a página 68 da revista para ver o artigo).

Sobre bioluminescência:

Cunha Filho, CA; Fischer, LG.  Peixes luminosos. Ciência Hoje das Crianças, 20 mar 2019.

Plâncton bioluminescente cria espetáculo de luz no mar [Video]. BBC News Brasil (Youtube), 27 Jul, 2019.

Kenna, L. The brilliance of bioluminescence [Video]. TED: ideas worth spreading, May 2013.

Widder, E. O mundo exótico e maravilhoso da bioluminescência - TED Lecture 2011. [Video]. VerCiência Mostra Internacional de Ciência na TV (Youtube), Nov 8, 2014.

The Ocean Portal Team. Bioluminescence. Ocean: Find your blue, April 2018.

Katzman, R. What Is Bioluminescence? Time for kids, August 24, 2018.

Sobre plâncton:

Migotto, AE; Veluttini, BC; Abel, LDS; Lindner, A. Plâncton: pequenos gigantes (pdf). São Sebastião: CEBIMar/USP, 2013. 2 p.

Lindner, A;  Migotto, AE; Vellutini, BC; Silva Neto, ID. Vida escondida. CEBIMar, abril 2008.

Tour - Plâncton: pequenos gigantes (Fotos e videos). Cifonauta, 2011.

Thys, Tierney. The secret life of plankton: TED Talk. TED: ideas worth spreading, April 2012.


Clique aqui para ver também o folheto de divulgação (em pdf).

Créditos do folheto:

Texto do folheto: Cristina Mira

Ilustração: Isabel Galvanese

Animação e Design Gráfico: Priscila Prisco

Assessoria Científica: Alvaro E. Migotto e Luciano D. S. Abel

realizacao e apoio