Tubastraea coccinea e T. tagusensis são espécies de corais nativas do Indo-Pacífico que invadiram o Atlântico incrustadas em estruturas artificiais. Atualmente, ambas representam grande ameaça à biodiversidade e aos ecossistemas marinhos das regiões invadidas, já sendo registradas em mais de 3.500 km ao longo da costa brasileira, incluindo substratos naturais e artificiais, como plataformas de petróleo e gás, monobóias e naufrágios.

Comumente chamados de corais-sol, estas espécies apresentam diversas características que as permitem dominar os ecossistemas invadidos, aumentando rapidamente sua densidade populacional e causando modificações no funcionamento dos ecossistemas (veja links abaixo). Desde seu estabelecimento, diversas técnicas de manejo foram testadas para conter e mitigar os impactos da invasão. A técnica mais amplamente utilizada é a remoção manual das colônias utilizando talhadeiras e martelos.

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Rocha densamente colonizada por colônias de coral-sol na Ilha dos Búzios, SP, em local onde não é realizado o manejo de coral sol.  Foto: Léo Francini

Considerando a grande pressão ambiental decorrente dessa invasão, um estudo recentemente publicado (DOI: 10.1002/aqc.3657) analisou a eficácia da metodologia de manejo em um costão rochoso vertical do Arquipélago dos Alcatrazes, no Litoral Norte de São Paulo, uma das regiões de proteção ambiental mais ricas em biodiversidade e mais bem preservadas do Brasil. A comparação dos diferentes tratamentos experimentais quanto a diferentes frequências de manejo indicam que a remoção manual é uma técnica eficaz para conter a densidade dos invasores, mas não suficiente para erradicá-los. Os corais-sol são conhecidos por apresentarem grande potencial de regeneração; assim, se uma pequena porção de uma colônia não for removida, em pouco tempo pode regenerar novos pólipos. Ademais, colônias existentes em outras localidades estão constantemente produzindo larvas que podem chegar ao arquipélago e originar um novo foco de infestação, além de existirem áreas onde a remoção manual é impossível, como fendas. Desta forma, é necessária uma gestão contínua e eficiente para controlar minimamente a dispersão dos corais-sol nos locais invadidos. A produção de novos estudos sobre o manejo dessas espécies e a implementação de protocolos de controle visando supervisionar vetores de entrada para prevenir novas invasões é também indispensável.

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Arquipélago dos Alcatrazes, São Sebastião, SP. Lucca Savio e Isabela Seiblitz realizando o manejo dos corais-sol. Foto: Léo Francini

Leia o artigo completo: Savio et al. 2021. Sun coral management effectiveness in a wildlife refuge from south-eastern Brazil. Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems, 27 May 2021. DOI: 10.1002/aqc.3657  (Acesse o Researchgate e solicite uma cópia para o autor)


Saiba mais:

Abel, L & Capel, K. 2010. Retirada de corais da costa brasileira: como isso pode ser bom para o ambiente marinho? CEBIMar/USP, 08 ago.2019. 

Luz, B.  As diversas formas reprodutivas e de ciclo de vida que fazem do coral-sol uma espécie invasora bem-sucedida. CEBIMar/USP, 24 jun. 2020. 

Zanotti, A.  A doença do coral sol: um vislumbre de esperança em um dos maiores casos de bioinvasão marinha já documentado. CEBIMar/USP, 18 maio 2021.


Lucca A. C. Savio está concluindo o Mestrado junto ao Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Ecologia Marinha e Costeira (UNIFESP), sendo orientado por Marcelo V. Kitahara (UNIFESP e CEBIMar) e Kátia C. C. Capel (CEBIMar) no projeto "Alteração da macrofauna bentônica decorrente da deposição de corais invasores Tubastraea spp. (Anthozoa, Scleractinia) em substratos inconsolidados", desenvolvido no CEBIMar e UNIFESP.